top of page
Deficiência física e acessibilidade

“Não existe calçada pra mim, porque ou os carros estão em cima das calçadas ou então está esburacada. Aí não tem condições e ando na pista”. É essa a realidade da aposentada Maria Eliane Ferreira (foto), 58 anos. Eliane passa por todas as dificuldades que uma pessoa com deficiência física tem ao se locomover pela cidade. A aposentada, que mora em Abreu e Lima, município da Região Metropolitana do Recife, localizado a 19km do centro do Recife, precisa se deslocar duas vezes por semana para fazer sua fisioterapia no Corpore Sano, clínica de reabilitação física e cognitiva da Universidade Católica de Pernambuco, localizada no bairro de Santo Amaro, Recife.

"Aqui é eu, Deus e a cadeira. Porque o poder público não faz nada por a gente”, lamenta Dona Elaine.

Foto: Marcela Pedrosa

Para Eliane, andar em qualquer lugar da cidade é um desafio diário e requer muito esforço. Sua maior reclamação é sobre a qualidade das calçadas que muitas vezes não são cuidadas e acabam causando mais estrago do que auxílio, “já até quebrei duas vezes minha cadeira andando nas calçadas”, afirma. A aposentada muitas vezes precisa pegar quatro ônibus para se deslocar e se diz triste pelo esquecimento que o poder público tem sobre as pessoas com deficiência física. Por conta do estado deplorável das calçadas, dona Elaine anda nas vias expressas do centro do Recife, "não tem calçada e eu vou pelos carros mesmo, os caminhões até respeitam, mas os carros pequenos passa quase 'raspando' mesmo" e complementa “Quem tem medo não anda na pista, mas quem não tem vai por ela mesmo. Fazer o quê? Só tem ela.”

Diante de uma problemática crescente não só em Pernambuco, mas no Brasil, é preciso pensar em formas de criar políticas públicas voltadas para a acessibilidade. Não só das pessoas com deficiência física, mas também para transeuntes que circulam nas grandes metrópoles. Para as arquitetas urbanistas Kate Saraiva e Nadja Granja, o grande desafio é universalizar o conceito de acessibilidade na cidade do Recife com um novo manual para criação de calçadas pautadas na acessibilidade. Segundo Nadja, é preciso que as pessoas estejam cientes o que é de fato acessibilidade. "Não existe acessibilidade sem mobilidade. A mobilidade começa quando você sai de casa para pegar o carro, pegar o ônibus, pegar a calçada e se você não tem acessibilidade, você não tem mobilidade". 

"Assim de tudo, é um trabalho de educação sobre acessibilidade que precisa ser ampliado", afirma Kate Saraiva. Foto: Marcela Pedrosa

Para Kate, a acessibilidade é universal e deve englobar a todos que utilizam o espaço público para se locomover, "ela não é só para as pessoas com deficiência. O ideal é que a calçada seja para todos". Segundo Nadja, a acessibilidade "não é só trocar o piso da calçada", ela tem que dar autonomia e segurança para todas as pessoas e "se você melhora a qualidade das calçadas para as pessoas com nível de locomoção mais reduzido, você vai melhorar para todo mundo" e complementa que "uma calçada para que pessoas em cadeiras de roda se desloque bem, mesmo sem sinalização tátil, ela se deslocaria muito melhor". 

De acordo com o Art. 1º do ​Decreto Nº 20.604/2004 da Preifeitura do Recife, é assegurado a construção, manutenção e fiscalização das calçadas do município e que "compreende o conjunto de orientações normativas que objetivam assegurar a acessibilidade e segurança aos pedestres, em especial as pessoas com deficiência". Apesar do decreto ser de extrema importância, pouco é visto na manutenção das calçadas da cidade. Por conta disso, Kate e Nadja, que trabalham no Núcleo de Acessibilidade da Prefeitura do Recife, pretendem modificar o decreto - que é 2004 - e lançar um manual para a construção de calçadas e passeios públicos atualizados e que privilegia pessoas com deficiência. O manual está sendo feito em parceria com o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira e a previsão é que seja divulgado ainda esse ano. 

"Esse material que iremos lançar irá ajudar não só os que entendem das normas técnicas, mas também o público leigo", afirma Nadja Granja. Foto: Marcela Pedrosa

bottom of page